Conferência

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CIAC viaja até ao Funchal: Ana Isabel Soares profere conferência de abertura do Seminário “Literatura&Cinema”.

No dia 28 de junho, pelas 18h00, a Escola Secundária Francisco Franco, no Funchal, através do seu Projeto Plano Nacional de Cinema, com a colaboração do Centro de Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira acolhe a Conferência “Da ‘cómoda alta’ ao écran de cinema: as personae de Pessoa”proferida pela investigadora do CIAC Ana Isabel Soares.

Resumo da Conferência:

O filme Conversa Acabada (João Botelho, 1981), consistiu, segundo o seu realizador, na “tentativa de um filme poético” resolvida em “drama poético” que, em várias entrevistas, Botelho aproxima quer de um “espectáculo de circo”, quer de “banda desenhada”. Dez anos depois de Conversa Acabada, José Sasportes escreveu um guião a partir do qual Margarida Gil realiza para a RTP Daisy – Um Filme para Fernando Pessoa. A esse projeto em dois episódios televisivos chama a realizadora “cinema dentro da televisão”, ou uma tentativa de “divertimento musical”. Em 1994, Gil regressa a Pessoa para dirigir Luz Incerta, que resultou de uma encomenda de Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura. O filme centra-se na cidade que mais profundamente Fernando Pessoa explorou, por via ortónima e heterónima. A “luz incerta” do título é, nos versos do poeta, a da “suprema verdade”. Margarida Gil procura recuperar uma “verdade dramática”, porventura a mais suprema verdade, e é nessa busca que encena vozes múltiplas, cruza textos de origens diferentes e investe numa produção materialmente densa, plástica, que, uma vez mais, sublinha o artifício da construção, pondo ao mesmo tempo visualmente em marcha o processo verbal que Pessoa tão sublimemente manejou.

A mesma Lisboa sobre a qual tanto escreveram Bernardo Soares, Fernando Pessoa, ou Álvaro de Campos, e a partir de que Margarida Gil construiu Daisy… e Luz Incerta (e Botelho a “conversa” entre Pessoa e Mário de Sá-Carneiro) é revisitada por Edgar Pêra em 2014, no filme cujo título precisamente recupera o de um poema de Campos, Lisbon Revisited. Obra em 3D, o filme completa-se com exposição fotográfica, performance, e remissão a um dos mais importantes álbuns fotográficos sobre a cidade (o de Vítor Palla e Costa Martins). Em cada uma destas obras, a produção pessoana (que ora integra, ora não, a persona mesma do poeta) ganha materializações diferentes, mais ou menos aproximadas entre si. De que modo se opera a transfiguração do ser verbal em ser visual, assumindo-se ambas as criações como resultado do processo primeiro de invenção poética? Ao logocêntrico “drama em gente” parecem corresponder encarnações visuais cujo suporte começa por um afastamentos do naturalismo cinematográfico.