EXPOSIÇÃO

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Rui Sanches inaugura exposição “Nada é imutável”

Rui Sanches, artista plástico e investigador do CIAC, inaugura no próximo dia 9 de outubro, pelas 22h00, na Fundação Leal Rios, em Lisboa, a exposição “Nada é imutável”.

Sobre a exposição: Perante o conjunto de obras de Rui Sanches presente na coleção da Fundação Leal Rios e tendo em conta a exposição que esta instituição agora dedica ao artista, convém assinalar a já larga trajetória­ — cerca de trinta anos de trabalho ­— do escultor acima mencionado que, iniciando-se no campo da pintura, acabou por dedicar-se ao trabalho tridimensional. Uma transição que lhe foi imposta pela investigação que então desenvolvia nas duas dimensões do quadro. De uma pintura abstrata e espacial passou à construção de obras tridimensionais — recorrendo sobretudo a madeira — em propostas onde plasmava um diálogo estreito entre estruturas geométricas regulares, de filiação construtivista e cubista, instaladas no espaço real e criando vínculos de carácter dinâmico que incluíam também a ideia do aleatório e do contingente. Se a sua fonte inicial de inspiração foram os modelos pictóricos de tendência clássica e barroca, é preciso dizer que Rui Sanches nunca esteve interessado em cultivar metalinguagens diretas com ênfase narrativo, mas sim em desenvolver um trabalho predominantemente abstrato e mudo de histórias, um trabalho que põe o foco numa nova sintaxe dos elementos estruturais, deixando de lado o plano convencional do significado. Fazia-o — e continua ainda a fazê-lo — valendo-se da multiplicidade e do fragmento para apontar na direção da unidade como hipótese. Um conceito aberto, que inclui a possibilidade de mutações, onde o geométrico se descobre irmanado com o orgânico, como se pode apreciar nesta exposição.

Na sua maioria, as obras que aqui podemos contemplar pertencem à segunda fase do artista, quando o seu trabalho em madeira se inclina fundamentalmente para o contraplacado ou multilaminado de madeira, num lento processo de execução baseado no recorte de cada prancha, na criação de formas geométricas por adição vertical, por sobreposição de elementos semelhantes ou dissemelhantes. A forma humana fragmentada­ — seja um corpo sem extremidades ou uma cabeça prototípica e anónima — é também objeto da investigação do artista, que os utiliza para sublinhar a possibilidade de relações simbólicas e temporais que têm lugar tanto na mente como no espaço habitado.

O desenho sobre papel, uma prática também cultivada por Rui Sanches, origina por vezes o aparecimento de uma escultura, embora isto nem sempre ocorra assim. Por vezes o desenho vem na sequência da escultura, ou manifesta-se independente do trabalho tridimensional. Ambas as vias são complementares, e o desenho, na imediatez da sua execução transporta consigo uma ênfase espacio-temporal que inclui os conceitos de evolução e de dissolução, pondo em questão a persistência das formas e a nossa capacidade de as abarcar percetualmente de forma definitiva. Nietzsche (em O livro do filósofo) já dizia o seguinte: Não há forma na natureza, porque não há nem interior nem exterior. Toda arte nasce no espelho do olho.”

Texto: Aurora García

Sobre o artista: Escultor português nascido em 1954, em Lisboa. Em 1974, desistiu do curso de Medicina (frequentava então o terceiro ano) e ingressou no Ar.Co (Centro de Arte & Comunicação Visual), onde frequentou os cursos de Introdução à Pintura, Escultura e Fotografia. Em 1977 partiu para Londres onde estudou no Goldsmiths’ College, obtendo o Bachelor of Arts, com honours, em 1980. Depois, foi para os Estados Unidos da América, onde se inscreveu na Universidade de Yale (New Haven), alcançando o grau de Master of Fine Arts em escultura. De regresso a Portugal, em 1982, Rui Sanches retomou o trabalho iniciado nos Estados Unidos um ano antes, e que já então privilegiava os materiais de natureza industrial, utilizados na vida quotidiana: contraplacados, vidro, tubos de metal, estafe, dobradiças, entre outros. Em meados da década de 80, apresentou-se como um dos protagonistas do chamado pós-modernismo. O seu trabalho remetia para a história da arte, usando como referência pinturas de David, Poussin e de outros artistas, que ele transpõe para a escultura, num processo de desconstrução de uma obra, para reconstruir uma outra. Nos anos 90, começou a fazer escultura com um processo de acumulação de extratos de madeira (contraplacados e aglomerados de madeira), numa procura mais orgânica. São esculturas construídas a partir de estratigrafias de aglomerados de madeira, nas quais cada estrato vai servindo sucessivamente de molde ao estrato que lhe sucede imediatamente no espaço e no tempo. Assim, a escultura de Sanches, muitas vezes feita a partir de uma maqueta em barro, elimina a ideia modernista do artista como autor da ideia, mais do que da prática física. Neste caso, o artista é sempre o autor da obra, entendida como um todo. Durante a década de 90, Rui Sanches exerceu, entre 1994 e 1998, a função de diretor adjunto no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP).